segunda-feira, 14 de julho de 2014

Psicologia Esportiva no Brasil

Sobre as Competências do Psicólogo Esportivo no Brasil

Em diversos países da Europa e América tem havido uma acentuada preocupação com o significado da palavra competência, principalmente no que diz respeito aos saberes e ao saber-fazer que devem ou deveriam caracterizá-la dentro de qualquer profissão.
Alguns autores como Desaulniers (1998); Manfredi (1988); Schwartz (1998); Stroobants (1998); Meghnagi (1998); Ropé e Taguy (2002) e Vosgerau e Eleuterio (2005) têm buscado, com muita propriedade, discutir a dimensão do significado das palavras competência, saberes e qualificação, já que, sem um prévio conhecimento, muitas pessoas podem chegar até a utilizá-las como sinônimo, como afirma Manfredi (1988): o uso desses conceitos polissêmicos, na grande maioria, são empregados como equivalentes e sinônimos mas, na verdade, ao se consultar a literatura, os mesmos conceitos aparecem como conceitos novos, atuais e não como reatualizações (p. 14).
Procurando manter este cuidado, sem se afastar do objetivo principal deste capítulo, que consiste em refletir sobre as competências necessárias ao exercício profissional do psicólogo esportivo no Brasil, optou-se por esclarecer, inicialmente, o significado do termo competência para que, ao final, seja possível identificar, de acordo com os órgãos oficiais, nacionais e internacionais, responsáveis pelo fazer profissional do psicólogo esportivo, as competências necessárias para exercer sua profissão. Para tal, foram usados como referência para discutir o tema, os seguintes autores: Manfredi (1998); Meghnagi (1998); Shwartz (1998) e Vosgerau e Eleuterio (2005).
Sendo assim, ao se reportar à questão sobre as diferenças entre os termos competência, qualificação, saberes e habilidades, Manfredi (1998) afirma que essas expressões têm ocupado lugar de destaque nos discursos e documentos dos diferentes agentes e instituições sociais.

Segundo a autora, as transformações em curso na sociedade brasileira, decorrentes das mudanças técnico-organizacionais no mundo do trabalho, estão fazendo ressurgir, com muita ênfase, acalorados debates relativos a temas e problemas que nos remetem às relações entre trabalho, qualificação e educação (especialmente a formação
profissional). Estudos nacionais e internacionais envolvendo tais questões têm envolvido pesquisadores de vários campos das ciências. As discussões têm navegado pelos mais diferentes campos das ciências sociais- economia, sociologia, história, antropologiapassando também a se constituir em objeto de preocupação de educadores, lingüistas, psicólogos, engenheiros de produção, médicos psiquiatras etc; enfim, todos aqueles que se preocupam com as questões relativas ao trabalho humano e as suas metamorfoses (1998; p. 14).
O interessante, porém, é que o que se tem encontrado na literatura, não são simples reatualizações do termo, mas sim conceitos novos e atuais que, de acordo com Manfredi (1998) merecem ser abordados dentro de uma perspectiva histórico-crítica constituindo não apenas um mero exercício intelectual, como poderiam interpretar alguns, mas uma tentativa de demarcar as diferenças existentes nas diversas abordagens, seja no âmbito teórico ou político (p. 14). Ou seja, ao basear-se na crença de que tais conceitos expressam sentidos e intenções diferentes (p. 14), Manfredi (1998) realizou uma pesquisa junto aos trabalhos mais significativos existentes sobre o tema, na intenção de investigar a construção social dos significados que têm sido atribuídos às noções de qualificação e competência no campo da Economia da educação, Economia política, Sociologia do trabalho, Psicologia e Avaliação educacional.
O resultado encontrado entre outros, foi o de que as expressões qualificação e competência parecem ter matrizes distintas. A noção de qualificação está associada ao repertório teórico das ciências sociais, ao passo que o de competência está historicamente ancorado nos conceitos de capacidades e habilidades, constructos herdados das ciências humanas- da Psicologia, Educação e Lingüística (Manfredi, 1998; p. 15).
No entanto, com o passar dos anos, a ressignificação do conceito de qualificação e sua substituição pelo conceito de competência foram inevitáveis. O processo de reorganização da economia mundial e as transformações técnico-organizacionais afetaram não só as condições, os meios e as relações de trabalho, como também, provocaram a construção de novas formas de representação das noções de trabalho, qualificação, competência e formação profissional (Manfredi, 1998; p.25).
Progressivamente, segundo Schwartz (1998), também os chefes de projetos e de empresa substituíram o termo qualificação pelo de competência para pensar o problema dos ajustes das pessoas às tarefas ou aos objetivos, bem como a busca de procedimentos ou modelos de avaliação dessas competências (p. 101). Como conseqüência, os trabalhadores passaram a responder a um novo perfil de qualificação de trabalho, capaz de satisfazer as seguintes exigências: posse de escolaridade básica, de capacidade de adaptação a novas situações, de compreensão global de um conjunto de tarefas e das funções conexas o que demanda capacidade de abstração e de seleção, trato e interpretação de informações. Além disso, como os equipamentos são frágeis e caros e como se advoga a chamada administração participativa, são requeridas também atenção e a responsabilidade (Manfredi, 1998; p. 25).
Em se tratando, especificamente, do Brasil (década de 70 [1970]), Manfredi (1998) relata que a noção de competência passa a ser incorporada nos discursos dos empresários, dos técnicos dos órgãos públicos que lidam com o trabalho e por alguns cientistas sociais, como se fosse uma decorrência natural e imanente ao processo de transformação na base material do trabalho. Segundo a autora, no discurso dos empresários há uma tendência de
definir competência muito mais como uma capacidade de agir, intervir, decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis do que um estoque de conhecimentos e habilidades (p. 27).
Já nos dias atuais, a partir dessa visão relatada por Manfredi (1998) pode haver limitações se levar em conta autores como Meghnagi (1998) e Vosgerau e Eleuterio (2005).
Para ambos, a noção de competência envolve muito mais do que apenas uma capacidade para agir ou resolver problemas, envolve sim, uma inter-relação entre fatores que compreendem desde a aquisição de escolaridade quanto os processos de aprendizagem informais que ocorrem em momentos e espaços distintos, as orientações de valorativas que dão suporte aos fatos inovativos, o pertencimento a uma comunidade profissional e a apropriação de um saber teórico ou gerado a partir de uma prática (Meghnagi, 1998; p.51).

Vosgerau e Eleuterio (2005) também se posicionam ao definir, separadamente, os termos competência, capacidade, saberes e habilidades, e reconhecem suas diferenças e possíveis inter-relações. Para estes autores, o termo competência constitui um saber-agir complexo, resultante da integração, da mobilização e do agenciamento de um conjunto de capacidades e de habilidades e de conhecimentos utilizados de forma eficaz, em situações similares (Lasnier apud Vosgerau e Eleutério, 2005; p. 7). Ou seja, tanto as capacidades como as habilidades e saberes são elementos que, uma vez determinados, seja em que contexto for, podem mobilizar as competências necessárias para uma atuação profissional ou acadêmica.
Em outras palavras, como ressalta Meghnagi (1998), ainda que cada profissão possa ser exercitada em níveis mais ou menos elevados de capacidades e habilidades, com a finalidade de produzir bens materiais ou imateriais, a competência se configura como sendo a explicitação de repertórios cognitivos de natureza variada, que envolvem ações e decisões das quais resulta a qualidade do desempenho. Hoje, tudo isso vale para a quase totalidade das profissões, do trabalho autônomo ao assalariado, para operários, quadros administrativos e dirigentes (p. 51).
Portanto, até este momento, pode-se afirmar que o termo competência relacionado ao fazer profissional, na visão desses autores, deve estar embasado numa perspectiva de formação ou de trabalho, ou seja, na aquisição e produção de conhecimento constante, referendado em teorias de aprendizagem bem como, numa perspectiva de contextos, espaços e tempos sócio-culturais do indivíduo.
Uma vez tendo claro o significado da palavra competência, é possível se concentrar no objetivo principal desse capítulo, que é o de propor uma reflexão sobre as competências que envolvem o exercício profissional do psicólogo esportivo.
Sabe-se que as discussões em torno das competências que envolvem o fazer profissional do psicólogo esportivo no cenário brasileiro não são recentes. O que, talvez seja recente, é a direção que esta discussão tem tomado após o reconhecimento legal da Psicologia do Esporte como especialidade da Psicologia (Resolução Nº 002/2001), ou seja, do ponto de vista das resoluções instituídas pelos Conselhos Federal e Regional de Psicologia, por lei, é de direito do psicólogo exercer a função de psicólogo esportivo junto ao mercado de trabalho.

No entanto, são claras as divergências a respeito desse assunto e, a maioria delas, acaba se detendo, principalmente, ao fazer profissional do psicólogo esportivo. Em outras palavras, a dúvida que permeia é: o que é de direito do psicólogo esportivo e o que é de direito também, de outros profissionais de outras áreas? E por quê? E mais, o que na verdade garante essa “diferença” que se denomina no fazer do psicólogo esportivo que qualquer outro profissional não estaria apto a realizar, a menos que fizesse uma graduação em Psicologia?
Para dar conta de responder a estes questionamentos, recorreu-se às Associações e Sociedades (nacionais e internacionais), como também aos Conselhos Federal e Regional, órgãos oficiais responsáveis pela sistematização do fazer profissional do psicólogo esportivo, para identificar elementos que pudessem responder por que é o psicólogo e não o professor de educação física, o engenheiro, o médico, etc que deve exercer o papel de psicólogo esportivo. A escolha por estes órgãos foi feita pelo fato de que não é possível discutir competência sem antes, se remeter àqueles que, oficialmente, têm a função de sistematizar o fazer profissional, neste caso, do psicólogo esportivo, e cuidar para que o mesmo esteja atendendo às exigências necessárias e legais dentro da sua atividade profissional.
Sendo assim, para melhor visualização e identificação das competências estabelecidas por cada um dos órgãos consultados, as mesmas foram dispostas na forma de quadros, separadamente. Optou-se por relacionar, inicialmente, as Sociedades e Associações internacionais como a ISSP; a Associação Americana de Psicologia e o Comitê de Reconhecimento de Especialidades e Proficiências do psicólogo (APA/CRSPP); a Associação para o Avanço da Psicologia do Esporte Aplicada (AAASP), por existirem há mais tempo quando comparadas ao Brasil em termos de sistematização do fazer profissional do psicólogo esportivo e, em seguida, o CFP e CRP e a SOBRAPE.
Antes, porém, de discutir as competências estabelecidas pela ISSP, é necessário salientar alguns pontos importantes da história e do posicionamento dessa sociedade perante a construção e solidificação da Psicologia do Esporte no mundo, para se compreender em que momento e por que se deu a atual sistematização do fazer profissional do psicólogo esportivo.

A ISSP foi criada em 1965, durante o I Congresso de Psicologia do Esporte, realizado em Roma, por Ferruccio Antonelli. Antonelli, médico psiquiatra, tornou-se o primeiro presidente da ISSP, permanecendo no cargo por oito anos.
Ao longo desses 40 anos que se sucederam desde sua criação, a ISSP, hoje, é considerada uma organização sólida, voltada a promover a disciplina Psicologia do Esporte, pesquisa e desenvolvimento através do mundo. Além disso, é vista também, como uma associação de escolas multidisciplinares cujo interesse está focado na pesquisa sobre aspectos da Psicologia do Esporte. A ISSP existe, entre outras coisas, para encorajar e promover o estudo do comportamento dos indivíduos e grupos associados ao esporte e atividade física; facilitar o compartilhar dos profissionais através de boletim de notícias, encontros e congressos realizados num intervalo de quatro em quatro anos.
Para dar conta dessas funções, a ISSP sempre esteve atenta à evolução que a Psicologia do Esporte sofreu ao redor do mundo. Nos últimos 30 anos, foi possível presenciar o reconhecimento de vários países em suas implicações política, econômica e social na área do esporte e do exercício numa época em que a globalização permitiu que o esporte crescesse propiciando às nações obter melhores caminhos para sua realização. Ao mesmo tempo, os indivíduos envolvidos com o esporte e as próprias escolas responsáveis pelo treinamento de educadores físicos, ciências do esporte ou psicologia contribuíram para o desenvolvimento do estudo da atividade esportiva através de uma perspectiva psicológica.
De acordo com um documento intitulado Treinamento e Seleção de Psicólogos Esportivos: uma revisão internacional, a interação estabelecida entre aqueles que praticam esporte ou necessitam de atividade física, bem como os estudiosos interessados na área, resultou ou tem resultado, no desenvolvimento da profissão que se denomina, hoje, Psicologia do Esporte e do Exercício.
Em decorrência disso, e por acreditar que é de responsabilidade da ISSP examinar o crescimento e desenvolvimento da Psicologia do Esporte e do Exercício ao redor do mundo, bem como a maneira como os psicólogos esportivos estão sendo treinados e selecionados para trabalhar nos mais diversos cenários que necessitam dos seus serviços, o Conselho Diretor da ISSP produziu o documento acima citado na intenção de informar as descobertas a respeito de como têm se dado o treinamento e seleção deste profissional numa perspectiva mundial.
A partir de uma pesquisa realizada junto às publicações de livros, jornais e conferências, estatutos e outros documentos oficiais de organizações de Psicologia do Esporte, nacionais e internacionais, foram coletadas informações sobre o tema: treinamento e seleção de psicólogos esportivos. Coube aos membros do grupo de revisão, além de procurar informações em outras fontes, a tarefa de confrontá-las com aquelas já encontradas.
O mesmo Conselho Diretor, formado por quatro membros, foi o responsável por analisar os dados obtidos, tendo como referência as seguintes regiões: África (Nigéria, Kênia, Zimbábue, Moçambique, Marrocos, Egito, Botswana e Sul da África); Ásia e Pacífico Sul (Japão, Coréia e Austrália); Europa (Alemanha, França, Espanha, Portugal, Itália, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia; Rússia Lituânia, Estônia, Romênia, Bulgária, Slovênia, Polônia, República Checa, Reino Unido); América do Norte (Canadá e Estados Unidos) e América do Sul. Não há registros de investigação realizados em países da América Latina.

As conclusões a que os diretores chegaram foram as seguintes:

  •  Há uma grande variação entre os diferentes países a respeito da duração de tempo na educação, treinamento e no processo de seleção em Psicologia do Esporte. Isso, segundo os autores se deve aos fatores de ordem cultural, social, política e econômica que influenciam a maneira na qual a Psicologia do Esporte é e tem se desenvolvido como profissão;
  •  Há uma dificuldade no desenvolvimento da Psicologia do Esporte em qualquer nação que não possua um compromisso político e econômico com o esporte internacional. Ou seja, embora a Psicologia do Esporte tenha sido, durante muitos anos, uma matéria dos programas de Educação Física, é somente através dos países que procuram o sucesso do esporte internacional em larga escala, que os psicólogos esportivos são convidados a oferecer serviços de suporte que se constata um envolvimento significativo pessoal e do ponto de vista de tempo de duração;
  •  Há poucos exemplos de organizações nacionais de Psicologia do Esporte que seguem o sistema de exigências da profissão, mas as mesmas têm aprendido a oferecer uma data para profissionalização do psicólogo esportivo em países em que o tempo de formação é considerado;
  •  A educação em Psicologia do Esporte tem sido, predominantemente, desenvolvida nos departamentos de Educação Física das universidades. Mas com freqüência, a Psicologia do Esporte é a única disciplina inserida em programas mais abrangentes, embora alguns países tenham sido capazes de desenvolver um programa específico de Psicologia do Esporte em nível de pós-graduação;
  •  Ignorar ou evitar a Psicologia do Esporte é um fato ainda muito comum nos departamentos de Psicologia das universidades e nas associações nacionais de profissionais em Psicologia. Apenas num número, relativamente, pequeno de países, a Psicologia do Esporte tem sido encontrada como disciplina dentro dos programas e/ou reconhecida dentro das associações de profissionais;
  •  É raro encontrar dentro da Psicologia, estatuto que licencie os psicólogos como psicólogos esportivos, apesar de existirem muitos países que possuem o estatuto da regulamentação da profissão;
  •  O certificado em Psicologia do Esporte para qualquer profissional de outra área que não seja da Psicologia é dirigido a um número pequeno de países ao redor do mundo. A maior parte dos programas que oferece o certificado de Psicólogo do Esporte foi estabelecida por associações profissionais de Psicologia do Esporte que estão apoiadas na Educação Física ou nas Ciências do Esporte ou sozinhas. É o caso da AAASP, nos Estados Unidos, como será visto neste mesmo capítulo, posteriormente.
  •  A influência do certificado ou a seleção do psicólogo esportivo para trabalhar com profissionais ou times nacionais depende do relacionamento que a associação nacional de Psicologia do Esporte tem desenvolvido com os membros do governo que organizam o esporte como o Comitê Olímpico Nacional, assim como, as organizações esportivas, como os clubes profissionais. Na maior parte dos países em que existe a possibilidade de obter o certificado, os psicólogos esportivos que não o possuem, acabam apenas exercendo sua função, baseando-se apenas em suas reputações individuais (Morris, Alfermann, Lintunen, e Halt; s/d; p. 23-24).
Baseando-se nesses pontos apresentados pelos autores, parece claro que, mesmo os países da América Latina não tendo sido incluídos na pesquisa da ISSP, é possível identificar semelhanças em relação ao cenário brasileiro a começar pelo desenvolvimento da Psicologia do Esporte que, também no Brasil, surgiu, inicialmente, nos departamentos de Educação Física das universidades e não dentro das faculdades de Psicologia.
Outro ponto em comum, mas voltado não para diferenças entre países, como aponta a pesquisa da ISSP e sim, para diferenças entre regiões, no caso do Brasil, é possível encontrar diversos cursos de formação em Psicologia do Esporte que se diferenciam, não só no que diz respeito ao tempo designado à formação, mas também ao conteúdo programático dos cursos. Em alguns deles predominam mais disciplinas voltadas à Educação Física e às Ciências do Esporte do que à Psicologia (Rodrigues, 2003).
Já em relação à possibilidade de realizar grandes eventos esportivos, pode se afirmar que o Brasil já foi sede de alguns desses eventos como, por exemplo, a Copa do Mundo (1950) e os Jogos Pan-americanos. Mas a realização destes não mobilizou, pelo menos publicamente, convite das organizações ou equipes para atuação de psicólogos esportivos especializados naquela época. Com exceção do psicólogo João Carvalhaes, psicólogo que participou da Copa de 1958, o que se sabe, é que alguns profissionais, entre médicos psiquiatras e engenheiros realizaram trabalhos e palestras junto às equipes de diversas modalidades, mas apenas um pequeno número de psicólogos esportivos pôde realizar um trabalho específico e adequado junto aos atletas.
Um outro fator relevante consiste na ausência da disciplina Psicologia do Esporte nos cursos de Psicologia. Como apontou a pesquisa, também em outros países, o conteúdo da Psicologia do Esporte ainda é mais freqüente na grade curricular dos cursos de Educação Física.
O Brasil, como outros países relacionados na pesquisa, também oferece licença ou certificado aos psicólogos esportivos. Desde 2001, como já mencionado, anteriormente, neste curso, o Conselho Federal e Regional de Psicologia concedem o título de especialista a psicólogos que desenvolvem trabalhos na área do esporte, ou por meio de uma prova, ou pela conclusão do curso de especialização oferecido pelo Instituto Sedes Sapientiae em Psicologia do Esporte. Os primeiros psicólogos formados pelo curso receberam o título de especialista em Psicologia do Esporte em 2003. Ainda assim, como a própria pesquisa afirma, os psicólogos que não possuem o título de especialista, mas realizam trabalhos no campo da Psicologia do Esporte, no Brasil, estão por sua conta e responsabilidade, ou como dizem os membros do Conselho Diretor da ISSP, estão exercendo suas funções baseando-se apenas em suas reputações individuais.
Vale ressaltar que os pontos aqui destacados como semelhantes àqueles levantados pela ISSP, só vêm demonstrar que, apesar do desenvolvimento perceptível da Psicologia do Esporte fora do Brasil, existem ainda muitos países em que este campo também necessita de organizações que representem a área, cursos, disciplinas, congressos, publicações e etc.
Ou seja, constatar que o Brasil não é o único país que tem buscado atingir uma solidificação e uma credibilidade para o campo da Psicologia do Esporte é um grande avanço, uma vez que, pouco se conhece do que realmente acontece fora do território brasileiro. Mesmo assim, saber que há um grande movimento em direção à conquista de maior reconhecimento e espaço no mercado da Psicologia do Esporte, não significa esgotar as reflexões propostas nesse capítulo sobre as competências exigidas no fazer profissional do psicólogo esportivo, no Brasil. Ao contrário. Isso só aumenta a responsabilidade dos profissionais envolvidos na estruturação desse campo, de propor condições para que os profissionais em exercício e aqueles que pretendem exercer a profissão, estejam aptos e qualificados para oferecer seus serviços à comunidade.
A ISSP, por sua vez, acreditando na importância do seu papel na formação de profissionais qualificados para exercer suas atividades de intervenção no mercado de trabalho e na solidificação da Psicologia do Esporte como campo de atuação e pesquisa, estabeleceu, em 1997, um novo comitê para supervisionar o desenvolvimento da disciplina e dos métodos utilizados para preparar e educar os psicólogos esportivos.
Com o acelerado crescimento do campo da Psicologia do Esporte e do Exercício, a ISSP e seus membros decidiram estabelecer, de forma mais definida e universal, padrões determinados para o campo em questão, para serem utilizados por organizações profissionais interessadas em estabelecer programas e/ou educação para os indivíduos que desejam atuar como psicólogos esportivos.
Segundo a ISSP, a Psicologia do Esporte é vista como uma área especial tanto do corpo de conhecimentos da Psicologia como do Esporte e do Exercício que necessita de conhecimentos científicos práticos de ambas as áreas. Como uma especialidade diferenciada, a Psicologia do Esporte e do Exercício demanda o desenvolvimento de aplicações e teorias que possam refletir um aumento de conhecimento tanto para a área da Psicologia como para o Esporte e o Exercício. Em outras palavras, a Psicologia do Esporte e do Exercício deve ser estudada, de forma sistemática, em instituições acadêmicas que disponham de um currículo estruturado, um programa de pesquisa e experiências supervisionadas e que sejam identificadas pela responsabilidade de educar e treinar estudantes (Tenenbaum, Papaianou e Samulski, 2001; p. 2-3).
Em 2001, durante o X Congresso Mundial de Psicologia do Esporte, em Skiathos- Grécia, a ISSP realizou uma sessão especial, presidida pelo Prof. Dr. Tony Morris, onde participaram membros da ISSP, representando diversos países para discutir as competências necessárias ao exercício profissional do psicólogo esportivo.
Todos os membros que se encontravam presentes concordaram, unanimente, que a sistematização das competências era necessária, principalmente pelo fato de terem sido constatadas várias diferenças entre os países, no que diz respeito ao treinamento e seleção de psicólogos esportivos. Mas, a partir de sua aprovação e posterior publicação como documento da ISSP, as mesmas não deveriam se tornar ou serem vistas como uma imposição feita a qualquer indivíduo ou grupo pelo mundo, mas sim, como recomendações para os indivíduos e/ou instituições que desejam desenvolver, planejar ou mudar os métodos pelos quais o psicólogo do esporte e do exercício é preparado.
É fato que a ISSP tem clareza das diferenças que existem na formação do psicólogo esportivo. Desde o processo até os padrões aos quais são submetidos, ou seja, tanto os profissionais como a cultura do país e/ou região têm características que podem chegar a impossibilitar qualquer comparação, principalmente no que diz respeito à formação dos profissionais. Mesmo assim, coube a alguns dos membros que participaram dessa sessão especial redigir um documento onde estariam dispostas, não só as competências exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo (Quadro V; p. 109), mas também o esquema conceitual desenvolvido pelos membros da própria ISSP que dispõe dos padrões teóricos da Psicologia do Esporte e do Exercício e suas relações com a atividade prática. Veja Figura 1 a seguir:

Esquema conceitual para definir as competências e os cursos em Psicologia do Esporte e do Exercício
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De acordo com a Fig. 1, é possível afirmar que a Psicologia do Esporte e do Exercício deve ser formada de uma base teórica que mobiliza determinados conhecimentos (A1; A2; A3 e A4) e, estes saberes devem abranger tanto a área da Educação Física e Esporte como também da Psicologia. Uma vez cumprindo estes pré-requisitos e submetido às supervisões, o psicólogo esportivo estará apto, segundo a ISSP, a realizar intervenções (B1 e B2), tanto no que diz respeito às equipes e atletas individuais, como trabalhar a comunicação entre técnicos, administradores, dirigentes e etc. Poderá atuar com crianças, adultos e pessoas idosas, assim como desenvolver habilidades em atletas de nível amador ou profissional; desenvolver atividades com indivíduos saudáveis como também indivíduos em fase de reabilitação ou deficientes (atletas para-olímpicos, por exemplo). Os exercícios ou condutas aplicados devem sempre buscar promover saúde, tanto no aspecto físico como no emocional.
Tenembaum, Papaianou e Samulski (2001) acreditaram que, ao redigir esse documento em nome da ISSP, o mesmo não só deveria disponibilizar as competências exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo, como também procurar deixar claro o que significava para a ISSP o termo competência, possibilitando, portanto, a compreensão da dimensão das competências dispostas no Quadro abaixo. Ou seja, ao se definir a competência como sendo um desempenho e/ou habilidade a serem demonstrados por uma pessoa que pretende tornar-se, ou já é, psicólogo esportivo ou do exercício, em áreas específicas, torna-se possível entender, a partir do Quadro abaixo, por que é tão importante e necessário um olhar mais atento à questão da formação do psicólogo esportivo, não só no que diz respeito aos países de fora, mas também no que diz respeito ao Brasil. Veja Quadro a seguir:

Competências exigidas no exercício profissional do psicólogo esportivo segundo a ISSP
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O Quadro acima, portanto, mostra, de forma detalhada, a partir do esquema conceitual anteriormente desenvolvido pela ISSP (Fig. 1), o que compreende cada uma das competências estabelecidas como necessárias ao exercício profissional do psicólogo esportivo. Porém, com a preocupação de não correr o risco de tornar o texto repetitivo, a cada vez que for necessário se reportar às informações do Quadro acima, as mesmas foram convertidas em tópicos para facilitar a posterior comparação com os outros órgãos que virão a seguir: APA/CRSPP; AAASP; CFP e CRP e SOBRAPE, respectivamente. Neste sentido, antes de prosseguir com essa descrição, seguem os tópicos identificados nas competências, na próxima lição.

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