A educação física no contexto escolar: trajetória e proposições pedagógicas
Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 13, n. 2, p. 123-130, maio./ago. 2010
124
aprendizagem presente na prática docente, que
exige a interação entre as novas ideias com a
prática, considerar as experiências dos docentes,
bem como todo o conhecimento até então
produzido. Descartar o que há de bom na prática
pedagógica e simplesmente apresentar um novo
modelo parece mais um discurso político do que
uma ação que visa mudanças reais na prática
pedagógica. Nesta perspectiva duas posturas
fundamentais, na figura de um professor ideal,
seriam necessárias, isto é, a prática reflexiva e a
implicação crítica.
O caminho percorrido pela Educação Física
Segundo Bracht (1999, p. 74), “a constituição
da educação física [...] escolar emergente dos
séculos XVIII e XIX, foi fortemente influenciada
pela instituição militar e pela medicina”. A
influência do militarismo e da medicina na
Educação Física contribuiu para uma
aprendizagem mecânica e sem reflexão. Neste
contexto a disciplina era utilizada na incorporação
de normas e valores. Por meio da educação do
corpo (o autor enfatiza a separação de corpo e
intelecto, e a valorização deste), isto é, hábitos
saudáveis numa perspectiva nacionalista, não
apenas terapêutica, as formas culturais eram
instrumentalizadas.
Para o autor, esses movimentos são
signatários do entendimento de que a educação da
vontade e do caráter pode ser conseguida de forma
mais eficiente com base em uma ação sobre o
corpóreo do que sobre o intelecto. Normas e
valores são literalmente “incorporados” pela
vivência corporal concreta. A obediência aos
superiores precisa ser vivenciada corporalmente
para ser conseguida; é algo mais relacionado ao
plano do sensível do que do intelecto.
A Educação Física no Brasil, nas primeiras
décadas do século XX, era entendida como
atividade exclusivamente prática, já que atuavam
nas escolas os instrutores pertencentes às
instituições militares.
Destaca-se que, até essa época, os
profissionais de Educação Física que
atuavam nas escolas eram os instrutores
formados pelas instituições militares.
Somente em 1939 foi criada a primeira
escola civil de formação de professores
de Educação Física (Brasil, Decreto-lei nº
1212, de 17 de abril de 1939) (SOARES
et al., 1992, p. 53).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a
Educação Física na escola passa a conviver com
novas tendências:
Após a Segunda Guerra Mundial, que
coincide com o fim da ditadura do Estado
Novo no Brasil, surgem outras tendências
disputando a supremacia no interior da
instituição escolar. Destaca-se o Método
Natural Austríaco desenvolvido por
Gaulhofer e Streicher e o Método da
Educação Física Desportiva
Generalizada, divulgado no Brasil por
Auguste Listello. Predomina nesse último
a influência do esporte que, no período do
pós-guerra, apresenta um grande
desenvolvimento [...] (SOARES et al.,
1992, p. 53-54).
A supremacia dessas tendências influencia
sobremaneira o esporte no âmbito escolar,
tornando a Educação Física subordinada aos
códigos da instituição esportiva, prevalecendo a
competição, o rendimento, a racionalização de
meios e as técnicas. Esta influência estabelece
novas relações, passando de professor-instrutor e
aluno-recruta – quando influenciado pela
instituição militar – para a de professor-treinador
e aluno-atleta (SOARES et al., 1992).
De maneira similar, Freire (2007, p. 115), ao
discutir os métodos de educação utilizados, nos
quais as crianças são “confinadas” e a falta de
movimento parece ser necessária para a
aprendizagem, relata que “nenhuma Educação
Física foi tão eficiente como aquela praticada
pelos nazistas durante a ascensão de Hitler, nem
tão bem-recebida pelos ‘pensadores’ brasileiros da
Educação Física da época como ela o foi”. Nesse
período a Educação Física foi usada como
dominação, na qual o corpo acaba sendo como o
poder (imóvel, rígido, conservador).
Segundo o autor, a Educação Física alienante
exige que o corpo conforme-se aos métodos de
controle, já que dessa forma as ideias podem ser
controladas, pois o “fascismo, que nunca
desapareceu, sabe que idéias e ações corporais são
a mesma coisa e, se quiser controlar as idéias,
basta controlar os corpos” (FREIRE, 2007, p.
114).
ATIVIDADES
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deus abençoe!!!!