terça-feira, 14 de julho de 2015

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA NOVA PROPOSTA CURRICULAR

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA NOVA
PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE
SÃO PAULO
A Proposta Curricular do Estado de São
Paulo para o Ensino Fundamental (ciclo II - de 5ª
a 8ª séries) e Ensino Médio, foi apresentada aos
professores da rede estadual pública no início do
ano de 2008. A carta de apresentação da
Secretária da Educação do Estado de São Paulo,
Maria Helena Guimarães de Castro, inserida na
proposta, traz o seguinte texto:
Neste ano, colocamos em prática uma
nova Proposta Curricular, para atender ànecessidade de organização do ensino em
todo o Estado. A criação da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB), que deu
autonomia às escolas para que definissem
seus próprios projetos pedagógicos, foi
um passo importante. Ao longo do tempo,
porém, essa tática descentralizada
mostrou-se ineficiente (SÃO PAULO,
2008c, p. 6).
Na Proposta do Estado de São Paulo, a
Educação Física insere-se na área de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias, juntamente com as
disciplinas: Língua Portuguesa, Língua
Estrangeira Modera (LEM) e Arte.
De acordo com a Proposta, a disciplina de
Educação Física deve contribuir, juntamente com
outras disciplinas, para que os alunos tenham uma
vivência que permita compreender as diferentes
linguagens e usá-las como meios de organização
da realidade. Assim:
A Educação Física compreende o sujeito
mergulhado em diferentes realidades
culturais, nas quais estão dissociados
corpo, movimento e intencionalidade. Ela
não se reduz mais ao condicionamento
físico e ao esporte, quando praticados de
maneira inconsciente ou mecânica. O
aluno de Ensino Fundamental e Médio
deve não só vivenciar, experimentar,
valorizar, apreciar e aproveitar os
benefícios advindos da cultura do
movimento, mas também perceber e
compreender os sentidos e significados
das suas diversas manifestações na
sociedade contemporânea. (SÃO
PAULO, 2008c, p. 38).
A proposta enfatiza a contextualização do
conhecimento, isto é, quando o conhecimento faz
sentido para o aluno, ou seja, se os dados, as
informações, as ideias e as teorias são
apresentadas considerando as condições de
produção, o tipo de sociedade em que são gerados
e recebidos, e sua relação com outros
conhecimentos.
A concepção da disciplina de Educação
Física, assumida na Proposta, revela uma
perspectiva cultural. Define-se como objeto de
estudo a cultura corporal e esportiva, ou cultura de
movimento, que engloba o esporte, a dança, a arte
marcial, a ginástica e os exercícios físicos.
Por cultura de movimento entende-se o
conjunto de significados/sentidos,
símbolos e códigos que se produzem e reproduzem
dinamicamente nos jogos,
esportes, danças e atividades rítmicas,
lutas, ginásticas etc., os quais
influenciam, delimitam, dinamizam e/ou
constrangem o Se movimentar dos
sujeitos, base de nosso diálogo expressivo
com o mundo e com os outros (SÃO
PAULO, 2008c, p. 43).
Na Proposta, percebe-se a atenção ao
crescente aumento da divulgação das informações
e dos produtos de consumo (mesmo que apenas
como imagens) ao grande público, por intermédio
de jornais, revistas, rádio, televisão e internet, e os
riscos que essa divulgação propõe, como por
exemplo, um padrão de beleza corporal a ser
alcançado por todos. Discute, ainda, a falta da
prática sistemática de esportes e exercícios
gerados pelas novas condições socioeconômicas
que favorecem o sedentarismo e o recolhimento
aos espaços privados (condomínios) ou
semiprivados (shopping centers).
Na Proposta Curricular do Estado de São
Paulo (2008), verifica-se, também, uma Educação
Física que considera os adolescentes como
integrantes de certas manifestações da cultura de
movimento (hip-hop, capoeira, musculação, skate
etc). Assim, a prática corporal, promovida pelos
professores da disciplina os quais desconsideram
tais manifestações, deve ser repensada: “A
transformação a que nos referimos não pretende
negar a tradição da área construída pelos
professores, mas ampliar e qualificar suas
possibilidades de atuação” (SÃO PAULO, 2008c,
p. 41).
A expressão “se movimentar” é utilizada na
Proposta “para destacar o fato de que se trata de
sujeitos que se movimentam em contextos
concretos, com significações e intencionalidades”
(SÃO PAULO, 2008c, p. 42-43). A expressão é
entendida da seguinte forma:
O “Se”, propositadamente colocado antes
do verbo, enfatiza o fato de que o sujeito
(aluno) é autor dos próprios movimentos,
que estão carregados de suas emoções,
desejos e possibilidades, não resultando
apenas de referências externas, como as
técnicas esportivas, por exemplo.
Estamos nos referindo ao movimento
próprio de cada aluno. Por isso, um aluno
pode gostar de movimentar-se em certo
contexto, mas não em outro, embora os
movimentos/gestos possam ser os
mesmos (por exemplo, dançar) (SÃO
PAULO, 2008c, p. 43).
Assim, entende-se que a Proposta se sustenta
no aprendizado das manifestações, dos
significados/sentidos, dos fundamentos e critérios
da cultura corporal de movimento. Defende,
também, o trabalho com grandes eixos de
conteúdos, resumidos e expressos no jogo, no
esporte, na ginástica, na luta e na atividade
rítmica; assim como os eixos temáticos: corpo,
saúde e beleza, contemporaneidade, mídias e lazer
e trabalho. E, por fim, acredita na
contextualização do conhecimento, isto é, dar
sentido ao conhecimento, relacionando os dados,
informações, ideias e teorias com as condições de
produção, com o tipo de sociedade, e a relação
com outros conhecimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a Educação Física sofreu
mudanças significativas ao longo da história, e
que existe empenho no sentido das discussões
teóricas e conceituais chegarem até a prática
pedagógica dos professores. Discutir e implantar
novas idéias, conceitos, propostas como a inclusão
da Educação Física na área de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias, juntamente com as
disciplinas: Língua Portuguesa, Língua
Estrangeira Modera (LEM) e Arte, bem como
entender a disciplina como meio para que os
alunos tenham uma vivência que permita
compreender as diferentes linguagens e usá-las
como meios de organização da realidade, não
deve ficar alheia a discussão, a reflexão, a um
processo baseado na formação dos atuais docentes
e dos futuros professores.
Uma nova proposta pensada como um
“elixir” que solucionará todas as dificuldades e
lacunas do processo de ensino-aprendizagem
presente na prática docente, a nosso ver, está
fadada ao fracasso, já que existe a necessidade de
interação entre as novas ideias com a prática,
considerar as experiências dos docentes, bem
como todo o conhecimento até então produzido.
Descartar o que há de bom na prática pedagógica
e simplesmente apresentar um novo modelo parece mais um discurso político do que uma ação
que visa mudanças reais na prática pedagógica.
Nesta perspectiva duas posturas fundamentais, na
figura de um professor ideal, seriam necessárias,
isto é, a prática reflexiva e a implicação crítica. De
acordo com Perrenoud (2002), a prática reflexiva
permite ao professor, “nas sociedades em
transformações, a capacidade de inovar, negociar
e regular a prática” (p. 15); já a implicação crítica
possibilita o docente o envolvimento no debate
político sobre a educação, mas não apenas aos
desafios corporativos ou sindicais, como “também
às finalidades e aos programas escolares, à
democratização da cultura, à gestão do sistema
educacional, ao lugar dos usuários etc” (p. 15).
Assim, a implantação de uma proposta não
deveria ficar alheia a um dos critérios discutidos
por Perrenoud (2002, p. 16) na formação dos
professores: “Uma transposição didática baseada
na análise das práticas e em suas transformações”.
Este critério chama atenção para o que acontece
na formação inicial e também nas reformas
escolares. Sobre a formação inicial:
Isso se complica ainda mais pelo fato de
que vários cursos de formação inicial
estão baseados mais em uma visão
prescritiva da profissão do que em uma
análise precisa de sua realidade.
Naturalmente, nada nos obriga a adaptar a
formação inicial à realidade atual de uma
profissão. A formação não tem nenhum
motivo para abordar apenas a reprodução,
pois deve antecipar as transformações.
Logo, para fazer as práticas evoluírem, é
importante descrever as condições do
trabalho real dos professores. Essa é a
base de toda estratégia de inovação
(PERRENOUD, 2002, p. 17)
Sobre as reformas escolares:
As reformas escolares fracassam, os
novos programas não são aplicados, belas
idéias como os métodos ativos, o
construtivismo, a avaliação formativa ou
a pedagogia diferenciada são pregadas,
porém nunca praticadas. Por quê?
Precisamente porque, na área da
educação, não se mede o suficiente o
desvio astronômico entre o que é
prescrito e o que é viável nas condições
efetivas do trabalho docente
(PERRENOUD, 2002, p. 17).
Dessa forma, é necessário discutir a produção
na área da Educação Física e os esforços no
sentido de implantá-las na prática pedagógica dos
professores, sem deixar de lado a pesquisa sobre
as práticas, e oferecer uma visão realista dos
problemas que atingem a escola todos os dias, já
que não é mais suficiente apenas dominar os
saberes para transmiti-los, mas como lidar com a
resistência dos alunos em aprender, com a
improvisação de materiais, com novos conteúdos
que vão além do vôlei, do basquete, do futsal, por
exemplo, o Beisebol, o Rugby, as Danças
Regionais, a Capoeira conteúdos presentes na
Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Por
isso, é urgente o encadeamento entre o que se
pensa fazer, a realidade prática e o possível, ou
seja, respeitar a distância entre a realidade e a
formação inicial e continuada dos professores.
REFERÊNCIAS
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